Vamos brincar de mímica?

16/04/2013 03:10

Poucos meses antes de vir para a Austrália comecei um curso de inglês para não chegar aqui totalmente perdida. Fiz um intensivo de 3 mêses, terminei o módulo básico. A ideia era acabar o curso, e depois viajar, mas na verdade tantas coisas aconteceram, que resolvi antecipar minha aventura.

Se você aprendeu o inglês básico, ou intermediário no Brasil e acha que consegue “se virar” fora do país, esquece. Nem coloque isso no seu currículo, por que acredite: o dia que você pisar num aeroporto estrangeiro ele não vai te servir pra nada.

Nada mesmo.

Pode até ser que você consiga pedir alguma informação, mas você não vai entender a resposta! Pois é, injusto assim.

Ao chegar em Sydney fui para a casa de família que eu tinha pago para ficar por 2 semanas. Na verdade a casa de família não tinha família, era uma mulher que morava sozinha. Nova, uns 30 e poucos anos. Chamada Tanya.

Saí de SP numa quinta-feira, e cheguei aqui num sábado, além da viagem ser longa, o fuso-horário nos faz perder um dia, e bagunça todo nosso relógio biológico. No horário que eu estava acostumada a dormir, aqui já era hora de acordar. Sentia fome de madrugada, sono durante o dia, mas nosso corpo se acostuma rapidamente. Com uma semana já estava adaptada.

Como não consegui fazer meu computador funcionar, eu tinha nada para fazer, sentava na sala pra assistir televisão, não entendia nada, ela comentava os programas sozinha, falava sozinha, desenhava pra eu entender, fazia caras e bocas, sempre bem humorada.

Essas duas semanas foram absolutamente bizarras. Eu não entendia nada do que a Tanya falava. Começamos então a treinar “mímica” em casa. Não tinha outro jeito de se comunicar. Me perguntava se eu precisava de um cobertor, eu não entendia, ela ia até o quarto, me mostrava o cobertor, e fingia que tremia de frio.  Queria saber se eu precisava de toalha, ia até o banheiro, buscava uma toalha, e fazia a mímica do banho. Tinha a mímica do café, da escola, do ônibus, da janta… Ela passou duas semanas levando e buscando coisas do quarto pra sala, da sala pra cozinha, do banheiro pro quarto…

Hoje, tenho vontade de voltar na casa dela, assistir um programa, comentar, e descobrir de fato o que ela faz, com que trabalha, quantos anos tem, onde a família dela mora, agradecer pelo cuidado que sempre teve de deixar meu prato de comida pronto no forno para quando eu chegasse da escola, e principalmente, agradecer pela paciência, e é claro, pelas aulas de mímica.

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